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Bora ... mau, que aconteceu?
...
- Senhor policia o que se passa?
- Um acidente senhor condutor! Tem que ter paciência mas temos a estrada cortada!
Bem, os homens são deveras organizados e cumpridores do seu serviço, que um agente da autoridade, com traje civil e sem qualquer identificação, me comunicou que poderia ir em sentido contrário na auto-estrada – tinha era que ir com cuidado e os 4 piscas ligados …
Lá fui … entrei numa estrada municipal, todo feliz da vida, porque finalmente lá ia eu usufruir da sensação de riqueza financeira, de depósito cheio, lá comecei a minha viagem.
Mas ser rico não é só ter o depósito da viatura transportadora cheio de líquido Árabe tão precioso – tanto o é, que os nossos governantes enriquecem à custa dele – ser rico e fino é mais do que isso! Sim é ter uma daquelas coisas que fala connosco. Um tal de sua graça: GPS.
Assim foi … vá de ligar tão importante instrumento, que se não fosse a sua existência, teríamos que fazer o mesmo que Bartolomeu Dias. Lá teríamos que viajar, orientados pelas estrelas. O problema é que estava a chover, estava nublado e com toda a certeza, essa velha forma de navegação, não iria ter muito sucesso.
Mas como dizem os apoiantes e simpatizantes bloquistas: estasse bem! Afinal a companhia de viagem era uma estrela de um brilho deslumbrante!
Vire na 1ª à direita a 300 metros … vire na próxima à esquerda a 424 metros … e lá se ia viajando, cego, com a beleza da estrela que me acompanhava, nem os sentidos de orientação funcionavam … só flutuavam!
Vamos por aqui? Por acolá? Entramos já na auto-estrada? Hummm … os euros cada vez valem mais centimos e lá me lembrei que afinal não era assim tão rico. O melhor seria poupar uns cruzados e evitar a auto-estrada …
O dito aparelho lá continuava a debitar informação: na próxima rotunda saia na 2ª à direita … atenção senhor condutor, está a exceder o limite de velocidade, reduza para 50 km hora … mantenha-se na faixa da sua direita …
Do nada, lembrei-me de umas iguarias sul-ribatejanas, que modesta a parte, considero as melhores que já comi – queijadinhas do Porto Alto. Claro que para quem não conhece, são feitas de queijo ou requeijão, não são daquelas que as pessoas resolveram rebatizar e chamar queijadas de laranja ou cenoura. Como se tal fosse plausível da utilização do termo queijada! As horas estavam a avançar rápido demais e a dita casa mãe dessas queijadas, já tinha encerrado.
Sem problema, com a companhia agradável da estrela e do GPS lá se seguia viajem. Vire à direita … depois à esquerda … siga em frente … e quando se olha para o relógio, já eram horas de estar no destino!
Fazendo mais uma referência bloquista à coisa: sem crise, vamos nessa! E como aventureiros, guiados pela tecnologia, a viagem continuou. Mais uns vira para ai, vira para aqui, lá se ia seguindo.
- Olha há tanto tempo que não passava por aqui! Bebia café sempre aí ...
- Agora já não dá, não podemos voltar atrás na auto-estrada.
A navegação via Google lá continuava … e claro, deveremos sempre confiar no Google, afinal o gajo sabe tudo! O problema é quando o Google e a Brisa têm parceria e não nos indica o melhor caminho, mas sim o caminho por eles contratados e combinados.
Seria normal viajar no sentido norte e ter as localidades a sul cada vez mais longe. Não! As localidades a sul estavam cada vez mais próximas … a chuva continuava a cair como se não houvesse nuvens amanhã.
- Estamos no sentido errado!
- Achas? Alguma vez! Não … vamos bem …
E na verdade para o GPS estávamos bem! Sim, o GPS teve uma crise de nostalgia. Talvez nos dias anteriores, tivesse lido o famoso livro de Almeida Garrett – As viagens na minha terra, e lembrando a Joaninha e o Carlos, por força que teria que ir conhecer a janela onde o romance deles começou.
Lá passei 2 vezes por terras onde o Frei D. Dinis ia 2 vezes por semana dar as novidades, mas sem parar na casa da senhora D. Francisca. Afinal o depósito do automóvel já tinha descido um pouco.
Como se o GPS tivesse ouvidos, lá navegou outra vez até à taberna onde muitas vezes bebia café. Claro que na 2ª passagem lá se parou. Repor a cafeina necessária para a continuação da viagem, era algo, necessário e aconselhável.
Passado essas voltinhas por terras de Joaninha e Carlos, lá se retomou a direção correta. Ciente que o 13 nem sempre é o número do azar, confiei novamente no tão belo e apaixonante instrumento de navegação … e … mais uma vez, o caminho escolhido por tão nobre instrumento, teve influências literárias. Desta vez foi: “Os contos do Pastor”, um belo livro de Ana Nunes que conta contos de pastores por serras de Pampilhosa.
Lá tive que alterar a forma de navegação e, resolvi confiar em algo menos apaixonado por obras literárias … o depósito estava vazio, e, eu, novamente pobre.
E pronto … nada que uma viagem de 4 horas não tivesse a sua beleza, nas 8 horas em que ocorreu!
Relembrando e citando o Mário Gil e o Roberto Leal:
Pelos caminhos de Portugal,
Eu vi tanta coisa linda
Vi um mundo sem igual.
Se podemos confiar no GPS? Claro que sim! Não seria a mesma coisa … e não teria qualquer piada uma viagem pelo interior do nosso tão bonito país! Voltei a ser pobre, o bendito líquido Árabe tinha terminado … mas estava feliz! Tinha conseguido chegar ao destino são e salvo!
Já agora e só por curiosidade - não era o fim do mundo, mas já foi! Já foi um verdadeiro inferno!
Um abraço às suas gentes!