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Diz à mãe para migar as sopas ...

Diz à mãe para migar as sopas ...

Mezinhas Caseiras

26.02.18 | Paulo Brites

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Dando continuidade á minha limpeza de links e textos guardados, encontrei este texto que guardei em 2013 e, embora não seja hábito meu, neste caso não guardei o link da sua publicação. No entanto guardei o nome do seu autor - Antónia Mestre Miguel Guerreiro. O texto vale o que vale, muitos de nós ainda temos essas referências, no entanto, decidi partilhar aqui no Diz á Mãe para migar as sopas… pois acredito que existam algumas pessoas a que essas “mezinhas caseiras” já não tenham chegado ao seu conhecimento. Era o tempo em que da natureza se retirava o “remédio” para as nossas doenças … aqui fica! Beijinhos …

 

Mezinhas Caseiras

"Sou proveniente dum meio rural, onde as pessoas não tinham acesso a determinadas coisas, tendo de recorrer a muitas estratégias, para puderem fazer face aos obstáculos resultantes do seu isolamento.

A saúde também não era exceção, por isso as pessoas tinham que saber tratar muitas das suas doenças, recorrendo aos meios que estavam ao seu alcance, para fazerem os seus próprios remédios. Com os quais, a maior parte das vezes obtinham bons resultados.

Entre muitos outros, eu vou enumerar alguns desses remédios e tentar explicar, para que doenças eram utilizados

Vou começar pela dor de cabeça, sempre que alguém estava com esse problema, costumavam pôr três rodelas de batata uma de cada lado da testa e outra no meio, atavam um lenço à cabeça para segurar as rodelas, estas tinham que permanecer na cabeça cerca de uma hora. Também costumavam fazer chá de erva-cidreira, para beberem, pois esse chá é bom para as enxaquecas e também funciona como calmante. Quando morria alguém, as pessoas costumavam fazer chá de cidreira para dar a beber aos familiares.

O chá de lúcia-lima era usado nas dores de estômago, nas indigestões, náuseas, vómitos e também nas cólicas renais

Para a dor de garganta era usada gordura de galinha derretida, com a qual se massajava toda a parte exterior da garganta, cobria-se com um papel pardo, enrolava-se um lenço em volta do pescoço, para segurar o papel e também para manter a temperatura. O sumo de limão fervido com mel, era outro remédio muito usado, para a dor de garganta e constipações.

As folhas de oliveira, também eram usadas com muita frequência para fazer chá, as pessoas que tinham problemas de coração ou tensão alta, bebiam-no com alguma regularidade.

Para a rouquidão as pessoas costumavam fazer chá de casca de cebola, doce com mel.

O hortelão, fervido com leite, servia para combater os parasitas dos intestinos, as chamadas “lombrigas”.

Para os problemas das vias urinárias, tais como: infeções urinárias e cólicas renais, bebia-se o milagroso chá de barbas de milho, que dava bons resultados e muito rápidos.

Também, a flor de laranjeira, era muito usada para fazer chá, que tinha como finalidade baixar a febre, combater gripes e constipações.

O mentrasto, o rosmaninho, e o alecrim, fervidos em água todos juntos, eram usados para combater alergias e comichões da pele, a chamada “bortueja”. Tomava-se banho com essa água, que tinha um efeito calmante.

Outra erva muito utilizada, para combater gripes, constipações, dor de garganta e bronquite era o poejo. O chá de poejo doce com mel, era maravilhoso e muito eficaz. Também se tomava como digestivo.

As sementes de linhaça moídas eram outro produto que tinha várias aplicações. Quando alguém tinha crises de falta de ar, “asma” fazia-se uma papa morna, com a farinha de linhaça, que de seguida se colocava sobre o peito, em forma de emplastro. Os farelos quentes, também eram usados para o mesmo fim. Mas, falando ainda das papas de linhaça, eram igualmente usadas para baixar a febre, só que nesse caso, misturavam-se com vinagre, punham-se compressas embebidas nesse líquido sobre o corpo, principalmente na região da testa.

Quando existiam cortes ou feridas, para estas cicatrizarem mais rápido, desinfetava-se toda a zona com água de malvas fervidas, de seguida fazia-se um emplastro com argila cinzenta, que se colocava sobre as feridas.

Se por acaso, alguém era picado por um inseto, pisava-se um dente de alho, que se colocava em cima da picada, para desinfetar e também para diminuir as dores. Para além disso, o alho tinha outra função muito importante, as pessoas que sofriam de reumático, costumavam tomar um dente de alho de manhã em jejum, como se fosse um comprimido. 

Outro método, muito utilizado outrora na minha região era as ventosas, que eram aplicadas para tratar dores musculares, mais a nível das costas. Esse método consistia em criar vácuo, num copo de vidro próprio para esse fim, o copo era aquecido e colocado no sítio onde existia a dor, permanecendo ai até arrefecer Mas esse tratamento de aplicar ventosas nem toda as pessoas o sabiam fazer, só os mais curiosos.

Para fazer parar a diarreia, punha-se arroz de molho depois bebia-se essa água, também era fundamental beber muito chá de lúcia lima.

Todos estes chás que vos falei eram feitos normalmente com as folhas das plantas secas. As pessoas, em determinadas épocas do ano tinham o cuidado, de apanhar essas folhas ou flores, pô-las ao sol a secar, depois de secas guardavam-nas em casa, para quando fosse necessário as utilizarem."

Texto da autoria de: Antónia Mestre Miguel Guerreiro