Um dedo de culinária - parte II - hora da buxa e as tradicionais beldroegas alentejanas
Porque a vida não pára e porque sempre foi um dos meus desejos, ter um blog excluisivamente sobre gastronomia. E pronto ... no passado dia 8 resolvi que tinha que nascer esse tal blog! Assim nasceu o https://hora-da-buxa.blogspot.com/ ... é um blog somente dedicado à culinária e a uma das suas disciplinas, a gastronomia. Para quem gosta e quer seguir, deixo já daqui um grande obrigado.
Achei que o post que partilhei hoje se enquadrava aqui no Diz à mão para migar as sopas ... eis o motivo da minha repetição. Já publiquei no https://hora-da-buxa.blogspot.com/ mas quero aproveitar este post para informar o nascimento de um novo blog meu. Claro que este vai continuar ...
Mas vamos ao post ...
Muito se pode falar e dizer sobre esta planta. Tanto em termos medicinais como no seu uso culinário. É uma planta selvagem e que em Portugal é bastante consumida, principalmente a sul do tejo. Não existe no norte? Claro que sim! No entanto foram os árabes que a consumiam e introduziram na nossa gastronomia. Uma erva já consumida por eles há muitos milénios. Talvez por isso, seja bastante mais consumida no sul do país.
De entre as muitas características medicinais existiu uma que fizeram da beldroega algo de muito importante em determinados momentos históricos. Não irei falar disso, somente faço referência, à sua importância na época dos descobrimentos (um dia abordarei o tema). O combate a um flagelo que atacava as frotas dos descobridores. O escorbuto. Por esse motivo e, embora a sua existência natural “nas américas”, só depois da chegada dos europeus começou a ser consumida.
Por cá e porque sou alentejano, é um dos pratos mais característicos destas bandas. É consumida principalmente como um tipo de açorda alentejana. Recentemente começou também a fazer parte de alguns cremes e saladas, mas é na sopa ou açorda que está a sua tradição.
Cingindo-me apenas ao “meu Alentejo” e como é apanágio e característico, temos diversas formas de cozinhar a chamada “Açorda de Beldroegas”. Claro que as variações não são consideráveis mas não deixam de o ser. Mostram as diferenças de cada região e a “nossa forma de ser e estar”. Sempre a “dar um toque e a reinventar”. Não quero falar de sociologia e afins, estou aqui somente por uma disciplina da culinária, a gastronomia.
De entre as muitas receitas existentes no meu Alentejo, deixo aqui as mais usadas e as que tenho conhecimento. Caso conheça mais alguma receita, não hesite e partilhe connosco!
A MAIS COMUM E A MAIS UTILIZADA E CONHECIDA– 4 Pessoas
1 bom molho de beldroegas
2 cebolas
500 g de batatas
1,5 dl de azeite
1 cabeça de alhos
4 ovos
2 queijos frescos ou de meia cura
Pão alentejano fatiado
Preparam-se as beldroegas aproveitando apenas as folhas e as partes mais macias. Cortam-se as cebolas às rodelas e alouram-se com o azeite. Juntam-se as beldroegas lavadas e deixam-se refogar muito bem mexendo com uma colher de pau. Regam-se com cerca de 2 litros de água e deixa-se levantar fervura.
Retiram-se as peles brancas à cabeça de alhos, que se introduz inteira no caldo a ferver. Juntam-se as batatas cortadas às rodelas grossas. Tempera-se de sal e deixa-se cozer.
Na altura de servir, introduzem-se no caldo os ovos um a um para escalfarem. Por fim os queijos cortados aos quartos.
Serve-se numa terrina, com o queijo e os ovos à parte. No prato e numa cama de pão alentejano “migado” em pequenas “sopas” degustasse tal iguaria.
REGIÃO DE ESTREMOZ, BORBA E VILA VIÇOSA – 4 Pessoas
1 molho de Beldroegas
4 ovos
2 colheres de sopa de vinagre
Batatas
louro
2 dentes de alho
1/2 cebola
salsa
azeite
Numa panela, refogasse os dentes de alho, cebola, salsa picada, a folha de louro, as beldroegas já limpas e sal. Depois de refogadas coloca-se a água e as batatas às rodelas. Deixa-se ferver e coloca-se os ovos para escalfar e 2 colheres de sopa de vinagre. Depois é só deixar cozer os ovos e servir.
REGIÃO DE MÉRTOLA
Beldroegas
tomate
alhos
cebola
salsa
azeite
ovos
pão
água
sal
Faz-se um refogado com a cebola, alhos, salsa, tomate e azeite. Junta-se água e quando ferver deitam-se as beldroegas. Quando estiverem cozidas (não muito) abrem-se os ovos e introduzem-se. Numa terrina colocam-se as sopas de pão e deita-se por cima o preparado.
Está pronto a servir.
CUBA (do baixo Alentejo)
Queijo de ovelha fresco
1 colher (de sobremesa) rasa de pimentão-doce
beldroegas
azeite
cabeça de alho
cebola média picada
batatas
ovos
sal q.b
folha de louro
Leva-se a alourar a cebola picada no azeite. Depois da cebola corada adicionam-se as folhas de beldroegas lavadas, o louro, o pimentão-doce e a cabeça de alhos inteiros a que só se retira a pele que os envolve
Quando tudo estiver refogado junta-se a água necessária, o queijo partido aos bocados e as batatas cortadas às rodelas. Seguidamente quando as batatas estiverem cozidas abrem-se os ovos e deixa-se cozer no caldo, ou escalfam-se à parte e serve-se imediatamente em tigelas com ovos escalfados por cima.
BEJA – 4 Pessoas
1 molho de beldroegas
2 cabeças de alho
4 ovos
4 postas de bacalhau
2 queijos fresco cortado em quartos
azeite e sal QB
pão do dia anterior
Faz-se um refogado com os alhos inteiros, as beldroegas, azeite e sal até as beldroegas ficarem brandas. Junta-se a água, quando ferver junta-se o bacalhau e o queijo. Quando tudo estiver quase cozido, escalfam-se os ovos e serve-se com sopas de pão.
Como já referi, essas são as variantes que tenho conhecimento. Se conhece mais alguma forma de confeccionar, agradecia a partilha. Afinal os segredos estão nas mãos e não nas receitas.
Beijinhos, abraços e bom apetite.